2007/05/25

Marrocos
País dos contrastes
Expedição da Municípia S. A.


Quem tem lido as páginas deste blog vai ficar admirado de, nesta, ser feito o elogio de Marrocos parecendo nas outras não haver nada melhor do que a Mauritânia.
Pois são coisas diferentes.
A nível da prática do todo o terreno a Mauritânia é o paraíso para essa modalidade.

Marrocos tem a vantagem de estar aqui mesmo ao lado, de ser um destino económico, turisticamente muito desenvolvido, e de ter o norte do Sahara a dois dias de viagem de jipe de Portugal.
Marrocos o país dos contrastes

Conheço Marrocos há trinta e cinco anos e desde que lá fui pela primeira vez fiquei subjugado pelas suas paisagens, pelo seu património arquitectural e artístico, pelo seu povo e pela sua cultura, fruto da mistura das diferentes
culturas dos berberes, árabes, judeus e cristãos entre os quais os portugueses, que são actualmente considerados pelos marroquinos como um povo irmão.

Prometo publicar centenas de diapositivos que colecciono desde a primeira viagem e que fui tirando em anos sucessivos e que vão mostrar o incrível desenvolvimento deste país.

Este desenvolvimento levou à ocidentalização das grandes cidades do Norte e litoral, mas a forte cultura do seu povo permitiu que chegassem até aos nossos dias os antigos usos e costumes que, temo, se irão perder com o crescimento desta actual geração que, ao tornar-se adulta, irá ocidentalizar tudo.
Marrocos é lindo, é o oriente aqui tão perto e só por isso tão diferente.

É uma panóplia de sumptuosas paisagens em mutação constante num contraste brutal entre as montanhas verdejantes do Rif a Norte e as cadeias dunares de Merzouga e Chegaga a Sul, entre as florestas de cedros do Médio Atlas e os palmeirais do magnífico Vale do Drâa, entre os 1300Km de costa Atlântica e a costa Mediterrânica, turisticamente por explorar, e entre as planície pantanosas do Rharb e os altos cumes cobertos de neve do Alto Atlas.


Percorrendo as suas estradas e as suas pistas, de pouco em pouco tempo a paisagem altera-se das planícies para as montanhas, das praias para o deserto, do verde para o ocre ou o dourado,











por isso Marrocos é o país dos contrastes e
desengane-se quem pensa que o deserto é monótono e igual, pois também aí a paisagem se modifica e também constantemente altera tonalidades com paisagens espectaculares e cinéfilas que vou tentar mostrar neste blogg.

No trajecto para o Sahara, no Norte, depois de Tânger, encontramos uma zona montanhosa, o Rif, de paisagens verdejantes alpinas que, para quem gosta de fotografia ou para quem gosta de contemplar o que é belo, vai obrigar a constantes paragens; uma dessas paragens é obrigatória em Chefchaouen, conjunto harmonioso de casas brancas e azuis, um paraíso de ruelas andaluzes que, devido ao grande número de marabouts e mesquitas, foi durante muitos séculos considerada cidade santa e fechada aos não crentes do Islamismo.
É uma cidade de uma arquitectura linda e rara, hoje infelizmente maltratada por um tipo de turismo em busca de Kif (Cannabis) que, apesar da política marroquina, não deixa de ser produzida em abundância nesta região.

Continuando para sul temos Volubilis, as ruínas da cidade romana património da humanidade e, logo a seguir, as cidades milenares de Meknès e Fès com as suas medinas que são também património da humanidade.

No nosso caminho para o Sahara deparamos com Ifrane, a Suiça marroquina, com os seus chalets alpinos e os seus lagos, esquecendo-nos até que estamos em Marrocos. Continuamos para Azrou, com a sua floresta de cedros, e é aqui que vivem os macacos berbéries, os Macaca sylvanus ou magots, os únicos macacos do Maghreb.

Progredimos alcançando o Médio Atlas, a seguir ao qual chegamos à sumptuosa cidade de Marrakech, com o seu minaret, a Koutobia, a cidade do deserto, com numerosas e luxuosas riads, a cidade oásis, com os seus jardins e os seus palácios que, apesar de ser a terceira cidade marroquina, suplanta as outras duas, Casablanca e Rabat, pelo seu charme contribuindo para isso a sua medina
classificada pela Unesco como Património da humanidade.

Progredindo para o nosso destino, o Sahara, temos ainda o grande e espectacular obstáculo, o Alto Atlas, com vários cumes a ultrapassar os 4 000m com uma das suas três estradas a de Tizi-n Tichka, construída em 1920 pela Legião Estrangeira, num traçado de uma antiga pista berbere, rota do sal entre a costa mediterrânica e o Sahara, e uma paisagem de uma grandeza indescritível.

Estas notas devem-se para vos contar mais uma estória que aconteceu com um dos mais espectaculares grupos a quem Ideias Nómadas teve o privilégio de preparar uma pequena expedição no Sahara.

Foi precisamente após termos ultrapassado o Alto Atlas e chegarmos à cidade do cinema, Ouerzazade, que, como combinado, encontrámos o grupo da





lª Expedição de
Cartografia a Marrocos

que aqui chegaram de avião.

Tinham à sua espera uma frota de modernos 4x4 com os quais se iriam aventurar nas pistas desérticas do Sahara marroquino.

Este grupo era essencialmente constituído por funcionários da Municípia S.A., a principal empresa portuguesa de cartografia.

Leram em cima funcionários? O português por vezes é pouco explicito.

Tratava-se de gente jovem como nós, abertos para a aventura e desejosos de se embrenharem pelo Sahara, e que viveram de forma intensíssima sete dias maravilhosos e de uma vivência única e diferente.

O primeiro contacto com Marrocos foi a cidade de Ouerzazade. Ficámos alojados num óptimo hotel, de onde saímos para visitar o mais conhecido e famoso Ksar de Marrocos.

Depois de almoçarmos no hotel saímos em jipes para visitarmos o estúdio de cinema Atlas, onde foram rodados alguns filmes sendo os mais famosos Lawrence da Arábia, Cleópatra, o Ultimo Gladiador, etc. e logo ali todo o grupo teve o primeiro contacto com as pistas num trajecto que nos iria levar a Ait-Benhaddou.

Ait-Benhaddou é a mais bela cidade fortificada (kasbah) de Marrocos. Aqui foram rodadas algumas das cenas de Lawrence da Arábia, Um xá no deserto,etc.
Toda a cidade foi reconhecida pela Unesco como património da humanidade.

Voltámos a Ouerzazade para no dia seguinte viajarmos para Sul, ao longo do vale do Mgoura

até às Gargantas do Todra, seguindo depois para Erfoud, onde nos embrenhamos no Sahara e logo numa pista onde se costuma realizar uma das
clássicas etapas do Dakar, seguindo ao longo da fronteira da Argélia em direcção Oeste, com descanso no Oásis Saf Saf, passagem pela cadeia dunar do Erg Chebi que nos levou a Merzouga, seguindo depois para Tafraoute, Tagounite e
Chegaga.

Pernoitámos sempre em óptimos hotéis, excepto aqui em Chegagá, onde Ideias Nómadas fez instalar, para essa noite, um acampamento de luxo.

Pois foi aqui numa noite de tempestade de areia que uma estória, desta vez romântica, aconteceu.
Estória

Connosco viajava um casal jovem, ambos funcionários da Municípia, que adiaram para Setembro o seu casamento para poderem participar nesta viagem.

Nós, Ideias Nómadas, gostamos que as pessoas se divirtam, que aproveitem ao máximo todos os momentos, convivam, que se adorem e, se possível, se amem, não podíamos deixar que este adiamento se concretizasse e resolvemos realizar-lhes o matrimónio.

Precisávamos de um padre, e quem melhor do que um dos organizadores que era também o médico, fotógrafo, guia, relações públicas, animador, sub-chefe e conselheiro do Chefe de Ideias Nómadas para a realização da cerimónia?




Eu.
Escolher padrinhos foi fácil, pois todos queriam ser.
Padrinhos: oMestre,aBeta,oNuno e a Silvia.
Pedi emprestada uma djaba.

Comecei a cerimónia chamando os noivos,
que ficaram totalmente surpreendidos pois nem pela imaginação tal lhes passava.
A Cármen e o Paulo.
Ou melhor, o Paulo, pois estávamos num país muçulmano e como tal dei-lhe a oportunidade de casar com quatro mulheres, segundo a possibilidade local.
O coitado, com tal surpresa, reagiu mal e escolheu apenas uma, a Cármen.

A Cármen, que é um torrão de açúcar, tremia de surpresa e emoção.

Comecei a cerimónia.

- Meuz irmãoos dezde a ulltima vezz que nus incuntrámuz nesta paróquia foi no tempo de Pintecostes e eu fizz um discurxo muito aborrexido.
Pois hoje ides ficar cuntentes pois de uma festa xe trata
..............

Depois perguntei à noiva xe quería o Paulo e xe lhe xeria fiel, xe axeitava levar umas porraditas do marido quando ele axim o quijexe .

(Isto tem a ver com uma máxima árabe:
Bate todos os dias na tua mulher, mesmo que não saibas porquê, ela sabe)
Mulheres, estou a brincar, mas que isto pode resultar, pode.

Cármen
-Sim

Ao Paulo perguntei:
Axeitas a Cármen para tua esposa e prometes xer-lhe infiel xó em xircunstâncias espexiais?

Paulo
-Sim

Na nossa interpretação de um casamento árabe obrigámos a noiva a lavar os pés ao noivo, a secar-lhos e a beijá-los na demonstração da evidência da total submissão da mulher ao homem.

Homens, isto é ou não é bonito?

E mais, o noivo teve o direito de, na tenda, dormir com a Cármen, com mais uma espampanante e atrevida Loira perdida de boa e ainda mais com a amiga da loira que é tão boa como as gajas danadas de boas.

Depois disto, Ideias Nómadas receia ter-se tornado numa agência de matrimónios para homens ocidentais saudosos.

3 comentários:

Maria disse...

Divertida, esta estória.
Assim também quero trabalhar para as Idéias Nómadas, já que deduzo que o vosso trabalho é mais divertimento do que outra coisa....

Boas "desertadelas"

Maria disse...

Para ti, amante do deserto, aqui vai, da madrinha:

Caminho

Na marcha pelo deserto eu sabia
Que alguns morreriam

Mas pensava sob o céu redondo
- Onde
O limite do meu amor pela minha força?

E eis que morro antes do próximo oásis
Com a garganta seca e o peso
Ilimitado do sol sobre os meus ombros

Eis que morro cega de brancura
Cansada demais para avistar miragens

Eu sabia
Que alguém
Antes do próximo oásis morreria

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Anónimo disse...

Finalmente tenho de te dar os parabéns pelas fotografias.
Estão SOBERBAS.
Só quem ama assim o deserto o pode ver com estes olhos...

Na próxima vez também quero ir....

Beijo