2007/05/25

Marrocos




Rota dos Nómadas

Marrocos

Motos e Jipes
29 Setembro a 6 Outubro 2007

Programa:

29/09/07: Tarifa – Meknes
- Encontro em Tarifa - Espanha
- Embarque em Fast Ferry para Tanger
- Formalidades alfandegárias
- Continuação para Meknes
- Jantar e alojamento em Hotel ****

30/09/07: Meknes – Erfoud
- Pequeno-almoço
- Saída cedo rumo a sul
- Almoço livre
- Entrada em pista perto de Er-rachidia
- Final de pista perto de Erfoud
- Jantar e alojamento em Hotel ****
- 90 Km de pista


01/10/07: Erfoud – Merzouga
- Pequeno-almoço
- Saída cedo por pista rumo a Saf Saf
- Passagem pelo Erg Chebbi
- Alojamento e Jantar em Albergue
- 160 Km de pista

02/10/07: Merzouga – Zagora
- Saída cedo após pequeno-almoço
- Entrada em pista em Taouz
- Continuação junto à fronteira com a Argélia até Grismal
- Passagem por Beni Ali
- Jantar e alojamento em Zagora Hotel****
- Cerca de 230 km de pista

03/10/07: Zagora – Bani - Zagora
- Pequeno-almoço
- Saída para etapa especial no Jbel Bani
- Jantar e alojamento no mesmo Hotel
- 180 Km de pista
04/10/07: Zagora – Ouarzazate
- Pequeno-almoço
- Pista entre Zagora e Agdz
- Ligação por asfalto até perto de Ouarzazate
- Entrada em pista até Ait Benadou
- Regresso a Ouarzazate
- Jantar e alojamento em Hotel ****
- 145 Km de pista

05/10/07: Ouarzazate – Marrakech
- Pequeno-almoço
- Saída para Marrakech
- Jantar e alojamento em Hotel ****

06/10/07: Marrakech – Tarifa
- Saída cedo rumo a Tanger
- Auto-estrada entre Marrakech e Tanger
- Formalidades alfandegárias
- Travessia em Ferry
- Fim de serviços.





O programa inclui:
- Seis noites em Hotel **** em regime de meia pensão
- Uma noite em Albergue em regime de meia pensão
- Coordenação por veículos da organização
- Assistência médica por médico da organização
- Pontos GPS das etapas
- Seguro de viagem

Especial Motos:
- Transporte das motos desde Lisboa (local a combinar)
- Transporte dos motards:
a) De Portugal em veículo de Organização (4x4)
b) Em avião até Fez e regresso de Ouarzazate, com ligações em 4x4 entre Fez e Er-rachidia.
- Logística de combustíveis na pista

Especial Viagem em Veículo organização:
- Viagem como passageiro
- Hotéis em regime de Meia Pensão
- Partida e chegada: Lisboa (local a combinar)

Ferry:

Tarifa – Tanger – Tarifa

- Preço por veículo ida e volta: 145 euros
- Preço por pessoa ida e volta: 52 euros

+++++++++++++++++++++++++++++



Preços e condições de participação

Veículo todo terreno (4x4):

- Preço por pessoa compartilhando quarto duplo em regime de meia pensão: 780 euros
- Preço por pessoa em quarto individual em regime de meia pensão: 920 euros

- Como passageiro em veículo organização:
a) Compartilhando quarto duplo: 1.000 euros
b) Em quarto individual: 1.150 euros


Motos:

- Compartilhando quarto duplo com transporte em veículo da organização desde Portugal. Transporte da moto em camião 4x4 e apoio logístico na pista: 1.250 euros
- Em quarto individual, com transporte em veículo da organização desde Portugal. Transporte da moto em camião 4x4 e apoio logístico na pista: 1.370 euros.
- Suplemento viagem em avião: 400 € (Lisboa - Casablanca - fez / Marrakech -Casablanca - Lisboa)

Não incluídos:
- Combustíveis dos participantes
- Bebidas nos hotéis
- Despesas pessoais

Nota:

1. Ao inscrever-se o participante isenta a organização de qualquer responsabilidade decorrente de acidentes ou outros não imputáveis à mesma.
2. Comportamentos menos adequados poderão levar a exclusão do passeio, ficando o participante à sua responsabilidade.
3. O itinerário pode ser alterado por motivos de segurança, cabendo à organização essa decisão.

Inscrições:
1. Lugares limitados.
2. As inscrições deverão ser enviadas até dia 20 de Agosto. Com o envio dos elementos de inscrição, deverá ser efectuado o pagamento de 35% sobre o valor estimado de participação.
3. Pagamento de 50% do valor de inscrição até dia 15 de Setembro de 2007
4. Restantes 15% a serem liquidados até dia 20 de Setembro 2007.
5. Todos os pagamentos deverão ser efectuados por transferência bancária.

Informações em:

geral@ideiasnomadas.com
c/ Francisco Alves
Marrocos
País dos contrastes
Expedição da Municípia S. A.


Quem tem lido as páginas deste blog vai ficar admirado de, nesta, ser feito o elogio de Marrocos parecendo nas outras não haver nada melhor do que a Mauritânia.
Pois são coisas diferentes.
A nível da prática do todo o terreno a Mauritânia é o paraíso para essa modalidade.

Marrocos tem a vantagem de estar aqui mesmo ao lado, de ser um destino económico, turisticamente muito desenvolvido, e de ter o norte do Sahara a dois dias de viagem de jipe de Portugal.
Marrocos o país dos contrastes

Conheço Marrocos há trinta e cinco anos e desde que lá fui pela primeira vez fiquei subjugado pelas suas paisagens, pelo seu património arquitectural e artístico, pelo seu povo e pela sua cultura, fruto da mistura das diferentes
culturas dos berberes, árabes, judeus e cristãos entre os quais os portugueses, que são actualmente considerados pelos marroquinos como um povo irmão.

Prometo publicar centenas de diapositivos que colecciono desde a primeira viagem e que fui tirando em anos sucessivos e que vão mostrar o incrível desenvolvimento deste país.

Este desenvolvimento levou à ocidentalização das grandes cidades do Norte e litoral, mas a forte cultura do seu povo permitiu que chegassem até aos nossos dias os antigos usos e costumes que, temo, se irão perder com o crescimento desta actual geração que, ao tornar-se adulta, irá ocidentalizar tudo.
Marrocos é lindo, é o oriente aqui tão perto e só por isso tão diferente.

É uma panóplia de sumptuosas paisagens em mutação constante num contraste brutal entre as montanhas verdejantes do Rif a Norte e as cadeias dunares de Merzouga e Chegaga a Sul, entre as florestas de cedros do Médio Atlas e os palmeirais do magnífico Vale do Drâa, entre os 1300Km de costa Atlântica e a costa Mediterrânica, turisticamente por explorar, e entre as planície pantanosas do Rharb e os altos cumes cobertos de neve do Alto Atlas.


Percorrendo as suas estradas e as suas pistas, de pouco em pouco tempo a paisagem altera-se das planícies para as montanhas, das praias para o deserto, do verde para o ocre ou o dourado,











por isso Marrocos é o país dos contrastes e
desengane-se quem pensa que o deserto é monótono e igual, pois também aí a paisagem se modifica e também constantemente altera tonalidades com paisagens espectaculares e cinéfilas que vou tentar mostrar neste blogg.

No trajecto para o Sahara, no Norte, depois de Tânger, encontramos uma zona montanhosa, o Rif, de paisagens verdejantes alpinas que, para quem gosta de fotografia ou para quem gosta de contemplar o que é belo, vai obrigar a constantes paragens; uma dessas paragens é obrigatória em Chefchaouen, conjunto harmonioso de casas brancas e azuis, um paraíso de ruelas andaluzes que, devido ao grande número de marabouts e mesquitas, foi durante muitos séculos considerada cidade santa e fechada aos não crentes do Islamismo.
É uma cidade de uma arquitectura linda e rara, hoje infelizmente maltratada por um tipo de turismo em busca de Kif (Cannabis) que, apesar da política marroquina, não deixa de ser produzida em abundância nesta região.

Continuando para sul temos Volubilis, as ruínas da cidade romana património da humanidade e, logo a seguir, as cidades milenares de Meknès e Fès com as suas medinas que são também património da humanidade.

No nosso caminho para o Sahara deparamos com Ifrane, a Suiça marroquina, com os seus chalets alpinos e os seus lagos, esquecendo-nos até que estamos em Marrocos. Continuamos para Azrou, com a sua floresta de cedros, e é aqui que vivem os macacos berbéries, os Macaca sylvanus ou magots, os únicos macacos do Maghreb.

Progredimos alcançando o Médio Atlas, a seguir ao qual chegamos à sumptuosa cidade de Marrakech, com o seu minaret, a Koutobia, a cidade do deserto, com numerosas e luxuosas riads, a cidade oásis, com os seus jardins e os seus palácios que, apesar de ser a terceira cidade marroquina, suplanta as outras duas, Casablanca e Rabat, pelo seu charme contribuindo para isso a sua medina
classificada pela Unesco como Património da humanidade.

Progredindo para o nosso destino, o Sahara, temos ainda o grande e espectacular obstáculo, o Alto Atlas, com vários cumes a ultrapassar os 4 000m com uma das suas três estradas a de Tizi-n Tichka, construída em 1920 pela Legião Estrangeira, num traçado de uma antiga pista berbere, rota do sal entre a costa mediterrânica e o Sahara, e uma paisagem de uma grandeza indescritível.

Estas notas devem-se para vos contar mais uma estória que aconteceu com um dos mais espectaculares grupos a quem Ideias Nómadas teve o privilégio de preparar uma pequena expedição no Sahara.

Foi precisamente após termos ultrapassado o Alto Atlas e chegarmos à cidade do cinema, Ouerzazade, que, como combinado, encontrámos o grupo da





lª Expedição de
Cartografia a Marrocos

que aqui chegaram de avião.

Tinham à sua espera uma frota de modernos 4x4 com os quais se iriam aventurar nas pistas desérticas do Sahara marroquino.

Este grupo era essencialmente constituído por funcionários da Municípia S.A., a principal empresa portuguesa de cartografia.

Leram em cima funcionários? O português por vezes é pouco explicito.

Tratava-se de gente jovem como nós, abertos para a aventura e desejosos de se embrenharem pelo Sahara, e que viveram de forma intensíssima sete dias maravilhosos e de uma vivência única e diferente.

O primeiro contacto com Marrocos foi a cidade de Ouerzazade. Ficámos alojados num óptimo hotel, de onde saímos para visitar o mais conhecido e famoso Ksar de Marrocos.

Depois de almoçarmos no hotel saímos em jipes para visitarmos o estúdio de cinema Atlas, onde foram rodados alguns filmes sendo os mais famosos Lawrence da Arábia, Cleópatra, o Ultimo Gladiador, etc. e logo ali todo o grupo teve o primeiro contacto com as pistas num trajecto que nos iria levar a Ait-Benhaddou.

Ait-Benhaddou é a mais bela cidade fortificada (kasbah) de Marrocos. Aqui foram rodadas algumas das cenas de Lawrence da Arábia, Um xá no deserto,etc.
Toda a cidade foi reconhecida pela Unesco como património da humanidade.

Voltámos a Ouerzazade para no dia seguinte viajarmos para Sul, ao longo do vale do Mgoura

até às Gargantas do Todra, seguindo depois para Erfoud, onde nos embrenhamos no Sahara e logo numa pista onde se costuma realizar uma das
clássicas etapas do Dakar, seguindo ao longo da fronteira da Argélia em direcção Oeste, com descanso no Oásis Saf Saf, passagem pela cadeia dunar do Erg Chebi que nos levou a Merzouga, seguindo depois para Tafraoute, Tagounite e
Chegaga.

Pernoitámos sempre em óptimos hotéis, excepto aqui em Chegagá, onde Ideias Nómadas fez instalar, para essa noite, um acampamento de luxo.

Pois foi aqui numa noite de tempestade de areia que uma estória, desta vez romântica, aconteceu.
Estória

Connosco viajava um casal jovem, ambos funcionários da Municípia, que adiaram para Setembro o seu casamento para poderem participar nesta viagem.

Nós, Ideias Nómadas, gostamos que as pessoas se divirtam, que aproveitem ao máximo todos os momentos, convivam, que se adorem e, se possível, se amem, não podíamos deixar que este adiamento se concretizasse e resolvemos realizar-lhes o matrimónio.

Precisávamos de um padre, e quem melhor do que um dos organizadores que era também o médico, fotógrafo, guia, relações públicas, animador, sub-chefe e conselheiro do Chefe de Ideias Nómadas para a realização da cerimónia?




Eu.
Escolher padrinhos foi fácil, pois todos queriam ser.
Padrinhos: oMestre,aBeta,oNuno e a Silvia.
Pedi emprestada uma djaba.

Comecei a cerimónia chamando os noivos,
que ficaram totalmente surpreendidos pois nem pela imaginação tal lhes passava.
A Cármen e o Paulo.
Ou melhor, o Paulo, pois estávamos num país muçulmano e como tal dei-lhe a oportunidade de casar com quatro mulheres, segundo a possibilidade local.
O coitado, com tal surpresa, reagiu mal e escolheu apenas uma, a Cármen.

A Cármen, que é um torrão de açúcar, tremia de surpresa e emoção.

Comecei a cerimónia.

- Meuz irmãoos dezde a ulltima vezz que nus incuntrámuz nesta paróquia foi no tempo de Pintecostes e eu fizz um discurxo muito aborrexido.
Pois hoje ides ficar cuntentes pois de uma festa xe trata
..............

Depois perguntei à noiva xe quería o Paulo e xe lhe xeria fiel, xe axeitava levar umas porraditas do marido quando ele axim o quijexe .

(Isto tem a ver com uma máxima árabe:
Bate todos os dias na tua mulher, mesmo que não saibas porquê, ela sabe)
Mulheres, estou a brincar, mas que isto pode resultar, pode.

Cármen
-Sim

Ao Paulo perguntei:
Axeitas a Cármen para tua esposa e prometes xer-lhe infiel xó em xircunstâncias espexiais?

Paulo
-Sim

Na nossa interpretação de um casamento árabe obrigámos a noiva a lavar os pés ao noivo, a secar-lhos e a beijá-los na demonstração da evidência da total submissão da mulher ao homem.

Homens, isto é ou não é bonito?

E mais, o noivo teve o direito de, na tenda, dormir com a Cármen, com mais uma espampanante e atrevida Loira perdida de boa e ainda mais com a amiga da loira que é tão boa como as gajas danadas de boas.

Depois disto, Ideias Nómadas receia ter-se tornado numa agência de matrimónios para homens ocidentais saudosos.

2007/03/25

Lei de Murphy e mosca 2


Como vos comecei já a contar, na primeira expedição à Mauritânia levámos poucos clientes com o intuito de ensaiarmos como iria funcionar a modalidade de aluguer de jipes, aproveitando a rápida deslocação que o transporte em avião nos proporcionaria permitindo assim alcançar aquele paraíso de "todo o terreno" sem ter de percorrer aquela estada do Sahara Ocidental,que embora bonita se torna monótoma devido à sua extenção.

Como esperávamos, deparámos com problemas nos carros alugados mas não era nossa expectativa que fossem tantos e tão variados, de tal forma que só esta expedição dá para escrever um romance aparentemente de ficção, mostrando apenas a realidade daqueles carros africanos.

Na Mauritânia só se alugam carros com condutor. Foi, pois, com desconfiança que concordaram, e pela primeira vez, em ceder carros para serem dirigidos por clientes, pesando para isso ser Ideias Nómadas uma empresa conhecida e com um
vasto curriculum no TT africano.

Mas quando lá chegámos, ao contrário do acordado, deram-nos os piores carros que possuíam, provavelmente com o medo que teriam de, no final da expedição, serem entregues carros inicialmente bons mas nas idênticas condições aos que verdadeiramente nos foram confiados.

Esta narrativa começa no dia anterior ao acontecimento que vai originar a estória abaixo descrita, com a saída de Atar em três pickups Toyota, uma delas já substituta da minha viatura anterior pois, como já vos contei em estória precedente, no dia anterior eu tinha transformado um direito veio de transmissão da minha Toyota num contorcido tubo em forma de oito o que, para efeitos de progressão, não teve muitas consequências, pois aquela viatura vinha progressivamente mostrando sintomatologia de astenia e já lhe tinha feito um diagnóstico de falência em mais ou menos quilómetros.

Saímos, portanto, de Atar para alcançar Ouadane, seguindo depois para uma zona desértica de pistas de areia revolta com numerosas dunas que nos levaria a Chingueti e continuando, depois, para chegarmos finalmente ao nosso destino-partida, Atar.

Seria um dia de percurso curto em que faríamos um trajecto turístico, excepção feita à incursão dunar de uma beleza vinda da mescla de areia dourada com múltiplas disformes ondulações de infinita lonjura.

Começámos o trajecto pelo
mais largo e longo estradão onde alguma vez já estive,
de um piso de lisura irrepreensível, tendo tudo corrido bem até ao seu final.

Tudo corrido bem não, pois ocupando a mesma viatura viajava comigo um casal, o que me não permitiu varrer algumas das soberbas curvas daquele majestoso estradão, principalmente uma delas já perto do seu término, mas que ficaram gravadas na minha memória, podendo já várias vezes, posteriormente, ter lá experimentado a trajectória certa para que no máximo de velocidade as possa fazer.

O perigo é quase nulo pois em caso de impossibilidade dos carros se segurarem na trajectória da curva é só endireitar o volante seguir em frente, uma vez que é deserto, não há pedras nem árvores, portanto um bom sítio para quem tem a noção de como evitar que um jipe "capote", de poder ali experimentar a sensação dos pilotos do mundial de ralis em idênticas curvas.

Não posso nunca deixar de recordar que uma vez, levando ao meu lado o guia de uma outra expedição por nós posteriormente efectuada, na tal curva, após a ter concluído, ele ter batido as palmas de contentamento pela sensação obtida, palmas essas batidas de certeza a um ritmo inferior ao do meu ritmo cardíaco pois dessa vez exagerei na velocidade e, como resolvi não fazer redução na caixa de velocidades, foi em quinta velocidade que vinha e foi em quinta que a efectuei, obtendo assim o máximo da derrapagem mas o mínimo da tracção para que, com mais segurança, pudesse sair daquela situação.

Já tentei posteriormente repetir o feito, mas a coragem falta pela forte lembrança da assustadora sensação experimentada, apesar de ter a noção de ter conseguido efectuar com a máxima perfeição a dita curva.

Um homossexual assumido da minha terra natal tinha uma frase, dita com outros desígnios, mas que aqui se pode aplicar tal a sensação obtida:

Um misto de dor (aqui mental e não física) e de prazer, mas não experimentem, não experimentem....

Tudo a correr bem, portanto, até entrarmos na pista arenosa que nos iria levar a Ouadane, o tal entreposto comercial português já descrito numa estória anterior.

A partir daí a Toyota dos cozinheiros parava de alguns em alguns quilómetros devido a aquecimento, esperávamos um pouco e lá prosseguíamos, mas passado pouco tempo já não era só aquela avaria, já havia outra que se manifestava
tirando a potência do motor e as paragens tornaram-se mais frequentes e demoradas, pois além de esperar pelo arrefecimento da carrinha tinha de se retirar o filtro de gasóleo para se expurgar alguma sujidade que entupia esse
filtro.

Bom, alguma sujidade seria aquilo que se escreveria noutras circunstâncias, mas a realidade é que o que saía daquele filtro era um líquido completamente lamacento e pantanoso longe de parecer combustível.

Aproveitava estas paragens repetitivas para a pé ir admirando as dunas, as contra dunas, as várias colorações da areia, a tirar uma foto aqui outra ali, a procurar fósseis, pedras e a começar a admirar as diferentes formas esculturais que tomam as diferentes acácias consoante os ventos que as amoldam durante o seu crescimento.

Tornei-me nesse dia um coleccionador de fotografias de árvores com formas ensoberbecidas e contorcidas, que só grandes escultores conseguiriam ter consumado, aqui neste caso o excelente artífice, a nossa querida mãe natureza,
ou melhor, o modelador eólico.

Apesar do tempo perdido conseguimos ainda almoçar junto às ruínas de Ouadane e visitar aquela antiga cidade e antigo entreposto comercial de Portugal.

Os problemas mecânicos e tentativas de resolução continuaram tarde adiante, agora também já com falta de força e aquecimento da minha pickup, o que não nos permitia progredir, a noite aproximava-se e acabámos por optar por abandonar os dois jipes no deserto e colocar todo o seu conteúdo na única carrinha que se mantinha operativa, a do chefe.

No interior do carro que resistia a prosseguir encontrava-se o chefe a conduzir, eu e os clientes de Ideias Nómadas e na caixa de carga da pickup ia todo o material de acampamento e cozinha, com os três ocupantes da carrinha de apoio empoleirados sobre a rede que envolvia a bagagem e seguros com uma mão nessa rede e com a outra nos prumos de madeira das tendas que atravessavam toda a carga.

Já admirava o chefe mas a partir daí a minha consideração por ele aumentou, pois ele tinha que levar a bom termo, de noite, no profundo deserto e em condições completamente inadequadas, toda aquela gente.

Senti um enorme receio por toda aquela perigosa e inconveniente conjuntura.

No deserto nunca nos devemos locomover num único carro.
Em situação alguma, e muito menos em piso de areia, um carro deve estar tão superlotado e carregado.
É, de todo, de evitar a transposição de dunas à noite e, nas circunstâncias descritas, até mesmo de dia.
Esta progressão tinha ainda um risco acrescido por não haver qualquer pista naquele trajecto.

Fiquei também a apreciar os pneus próprios para areia daquele jipe que, talvez devido ao enorme peso suportado, se moldaram ao piso arenoso com a pressão correcta, avançando sem atascarmos.

Na passagem de uma das dunas Alá estava connosco.

O chefe, como habitualmente e como fez em todas as outras dunas, embalou o jipe começou a subir a pendente com a velocidade necessária, mas algo lhe disse para não a transpor, fez marcha atrás e foi perscrutar como era a
inclinação da pendente contro-lateral, tendo ficado arificado (ali o termo certo não era terrificado), se tivesse atravessado o cume teria caído na vertical da altura de alguns metros, fora de pista, pois ali pista não há, e sem outro carro para prestar ou pedir socorro.

Esta inesperada aventura, graças a Alá, ao chefe e à única boa pickup que nos foi confiada prosseguiu, ocorrendo ainda mais

dois episódios burlescos que vos quero contar.

Um deles foi a passagem em Chingueti, a mais importante antiga cidade da Mauritânia e a actual sexta cidade santa do Islão.

Estava prevista uma visita à cidade que foi substituída, dada a hora já tardia, pela inevitável passagem de carro junto à mesma com a descrição do chefe do que poderíamos ver, caso não tivesse havido tantos problemas que nos fizeram ali chegar já de noite.

O chefe tinha a lição bem estudada e apontava com o dedo para onde teria recaído a nossa visita, descrevia-os e nós com o nosso olhar espreitando o escuro de uma noite sem luar, imaginávamo-los.

Foi uma sensação nova de incapacidade irrisória junto com algum desalento, estávamos em Chingheti, gostávamos de a contemplar, mas para a conhecer só noutra expedição.

O segundo episódio caricato aconteceu perto do final,
após termos dado boleia a um Mauritano, com o seu Mercedes também avariado, que aproveitou a nossa carrinha por achar preferível ser mais um passageiro na parte superior da carga do que permanecer na pista naquela noite de breu, usufruindo nós da noção de completo aproveitamento do espaço que a Toyota nos proporcionava.

Antes de chegar a Atar a pista deixa o maciço de Adrar com pronunciadas descidas que, pela inclinação da pendente e por questões de segurança e tracção, foi asfaltada sendo a única parte deste trajecto que o é.

Foi logo nesta primeira e acentuada descida que o chefe apanhou o segundo grande susto do dia, com o único jipe em boas condições mecânicas a ficar totalmente sem travões, com cinco pessoas no seu interior e quatro sobre a pesada carga, e foi graças à segunda velocidade da caixa de velocidades a transmitir um barulho de forte rotação ao motor para conter a velocidade das rodas o único processo de evitarmos entrar em velocidade uniformemente acelerada.

Finalmente conseguimos chegar a Atar, o chefe por telefone travou-se de razões com a agência rent-a-car e no dia seguinte foi combinado deslocarmo-nos para Akjoust, onde iríamos receber dois bons jipes.

Seria verdade ou viriam aí mais duas azémolas ?

Foi, pois, com enlevo e êxtase que à hora de almoço nos apareceram duas bombas TT.
Um jipe Mitsubichi longo, branquinho, de alta cilindrada para o chefe, e um também topo de gama, africano, um Toyota HDJ 105 com 4.2 c.c. cilindrada, para mim...
Finalmente, bem montados e com os cozinheiros numa nova pickup.

Estória:

O desejo de abalarmos era enorme, mas antes de prosseguirmos tentei bloquear os cubos das rodas dianteiras tirando-os da posição automática, procedimento indicado pelos fabricantes de jipes para quando se conduz permanentemente fora de asfalto, mas o condutor da pickup, ao ver tal procedimento, aparece de imediato e com altos modos diz-me para não o fazer e, como eu insistia, ele acabou com o dilema dizendo que ele é que percebia daquilo pois a vida dele era aquela e era um profissional...

Acatei o recado e partimos, primeiro o chefe, depois eu e no final a pickup carregada com o habitual estendal.

Enfastiados de carros achegados a carroças e num trajecto para Oeste de Akjoust para alcançar a praia onde iríamos acampar, deparámo-nos com uma paisagem desértica de piso duro de infinitas pistas paralelas.

Para vosso melhor entendimento progredíamos em milhões de campos de futebol ou, para compreenderem ainda melhor, aquele poderia ser um espaço de aterragem do Space Shutle e poderia fazê-lo em múltiplas direcções, tal era a dimensão daquele área com piso de dureza térrea.

Fartos de maus carros, conduzindo agora dois "maquinões" naquele espaço de aparente infinita lonjura, e querendo recuperar o tempo perdido, já via o meu chefe lá bem à frente, o meu velocímetro marcava cem e preparava-me para acelerar ainda mais, olhei pelo espelho e verifiquei que a pickup estava consecutivamente a ficar para trás e pensei:

Coitados dos cozinheiros porquanto vamos chegar ao nosso destino com duas horas de avanço em relação a eles, o que será uma vantagem para nós por haver mais tempo para a praia, para o banho, para nos deitarmos na toalha, para tentar arranjar uns peixinhos para o jantar, etc.

Estava um calor q.b. e perguntei ao casal que me acompanhava se preferiam ar condicionado ou vidros abertos.

Com a escolha da segunda opção abri o meu vidro e estiquei-me todo para receber aquela aragem mais fresca e não sei como, mas talvez para dizer qualquer coisa ou para respirar ar mais fresco, abri um pouco a boca.

Eis que sinto entrar um corpo estranho pela boca adentro, ficando-me atravessado na garganta.

Mas de imediato, além da sensação de algo enfiado na garganta, comecei também a apreender que o corpo estranho, tal como eu, se tentava libertar daquela situação, mexia-se e encetei a experimentar surpreendente e incómodo prurido
na oro faringe.

Só podia ser uma mosca, mas que porcaria, engolir mosca nunca, tinha que a cuspir para o chão, mas com um distinto casal no interior do carro o melhor era parar e cuspir para a rua.

Comecei a parar, mas agora já não era só para cuspir, pois as asinhas do bicho, no seu rápido movimento, estavam a provocar-me náuseas e os vómitos foram inevitáveis.

Já estava a travar, travei ainda mais intensamente, o jipe parou, abri a porta rapidamente, debrucei-me para o chão e
Pum.....
E cá está a lei de Murphy a funcionar:

Mesmo no maior dos desertos,se dois jipes se movimentarem a probabilidade de chocarem existe.

A prova estava ali, as leis de Murphy que me deliciam pelo gozo humorístico que contêm pela improbabilidade de se aplicarem, tinham logo que ser comigo que operaram.

Como foi possível tal acontecer?

O causador foi o nosso condutor da pickup, que já não via os seus amigos cozinheiros há algum tempo, vindo com eles no paleio e franca animação e distraído, só se apercebe tardiamente da paragem do meu jipe e, em vez de viraro volante e passar, trava a fundo, bloqueia, vem de rojo e
Pum na traseira do meu jipinho.

A mosca?....
não faço a mínima ideia, ou a engoli ou a libertei e as náuseas foram imediatamente esquecidas tal o assombro vivido..

Claro que o meu veículo só ficou com uma ligeira amolgadela, mas a pickup tinha o guarda lamas encarquilhado, retraído e a envolver a roda e quando o tentámos puxar para a libertar verificámos que o semi eixo também estava partido.

Mais uma pickup semeada no deserto.

E com a viagem novamente estragada.

Mas como de qualquer situação, e até da desgraça, procuro obter algum gozo, encontrá-lo ali até não era difícil.

Senti-o não só ao cogitar de como era possível haver dois carros batidos naquelas circunstâncias e também ao contemplar o condutor da pickup e aí, na percepção do contraste entre a altivez que aquele profissional teve ainda há cinco minutos antes, chegando a ser inconveniente com tais modos de doutoraço, com o confronto de se mostrar agora completamente destroçado, arrasado e atrofiado, sem saber o que lhe sucedeu e porque aconteceu, e de como iria explicar ao seu chefe tal conduta.

Foi também jocoso quando o chefe voltou para trás e divisámos, ao chegar,

as rápidas mutações da sua fácies;

Primeiro assombro (estão parados porquê?)
A seguir céptica (avaria já?)
Depois incrédula (chocaram?)
E por fim colérica (estamos tramados...)

Pausa

Seguida de decidida


Vamos dormir a um hotel.

Vamos para Nouakchot,

2007/02/28

Património dos Portugueses

A pressa dos meus companheiros teve as suas vantagens.
Pernoitamos em Essaouira, eles com certeza com dias de atraso e eu com dois dias de avanço em relação à nossa chegada a Portugal.

Despedimo-nos pois eles, no dia seguinte, queriam chegar ao destino e eu já me sentia confortável e seguro no meu segundo país e exactamente na zona de Marrocos que, com alguma atenção, queria visitar.

Queria usufruir da ida a quatro bastiões portugueses no norte de África que distam, entre eles, poucos quilómetros.

Tudo o que é ou foi Português no estrangeiro me atrai.

Adoro o meu País, a nossa História e os nossos Homens , (infelizmente agora não conheço nenhum, estava só a pensar nos políticos).

Políticos

Os políticos actualmente esmeram-se e gastam todas as energias na verbalidade de mal dizer os outros dos outros partidos.

Continuo a escutá-los, não para os ouvir, mas porque os elegi como bons oradores de um tipo de humor que me seduz.

Tento sempre e permanentemente perceber o segundo sentido das suas frases, porque as dizem naquele momento, o motivo porque estão a criticar algo que até me pareceu bem, se acreditam no que estão dizendo, porque dizem coisas que dois anos depois contradizem, porque chegam a altos cargos públicos sem antes terem dado provas de terem construído qualquer benfeitoria, porque prometem o que nunca serão capazes de cumprir, e tornam a votar neles sem que os votantes se sintam enganados.

As minhas desculpas, mas isto é uma arte próxima da vigarice.
Respondem-me:
- É política.
Mas isto tem algum valor, a não ser na arte atrás descrita?

Alguns políticos sentem-se tristes pela cada vez maior falta de consideração que os portugueses sentem por eles. Será por muita gente pensar como eu?
Só terão um caminho:

Falarem com veracidade e desenvolverem a intuição de honorabilidade de que o que dizem é o que pensam não para agrado do partido mas sim para bem do país.
Vão perder um ouvinte que se irá virar para o humor dos pastéis de nata, mas de certeza que eles e o país irão ganhar muito com isso.

Portugal antigo.

Vivo no Portugal actual mas admiro o que fomos e sinto-me triste, confuso com o que somos.

Tão poucos éramos, o que conseguimos e onde chegámos ao aproveitar ao máximo as nossas potencialidades, descobrindo tecnologias que nos transformaram na maior potência mundial dos séculos XV e XVI.

Diz-se que as conquistas, descobrimentos e desenvolvimento económico se deveram ao meio geográfico, às nossas hospitaleiras costas com os seus portos naturais, aos nossos rios com esplendorosos estuários.

Mas tudo isto hoje se mantém e toda a frota marítima é quase inexistente, continuando a haver subsídios para abate de navios???

O português mais importante da História Universal

foi o Infante D. Henrique. Não posso no entanto esquecer os reis e os políticos do seu tempo que o impulsionaram e que desenvolveram uma postura correcta que conduziu aos descobrimentos e ao conhecimento geográfico do nosso planeta, impossíveis de realizar sem a tecnologia investigada e descoberta na Escola de Sagres.

Depois da conquista de Ceuta entregou-se D.Henrique de alma e coração aos estudos cosmográficos, geográficos e matemáticos aplicados à navegação estuda-os e exercita-os pessoalmente, rodeia-se dos maiores cientistas da época.

Doa à universidade uma casa que possuía em Lisboa obrigando-a ao ensino de ciências aplicadas à prática, bonito exemplo para as nossas instituições actuais que doam os edifícios para a criação de mais um curso para enganar pais e alunos, pois quando os acabam entram para o mercado de trabalho com as mesmas habilitações como quando entraram para a universidade.

Há quem pretenda ver na sua obra um intuito mercantil, tanto dele como do rei D. João II.
Sobre estas duas figuras versa um ideal superior de altruísmo e de aspirações nobres e puras de conversão dos árabes ao cristianismo, e que mostra o carácter mais belo e profundo das glórias nacionais da nossa História.

Apesar de grande fortuna pessoal, o Infante morre endividado e na penúria pois as expedições mostraram-se ruinosas com o gasto no desenvolvimento das terras descobertas e com o enorme custo das guerras de Marrocos.

Mas nada disto o demoveu, mercê do seu ideal nobre e puro, e graças à sua alma mística levou avante a sua missão.

É, pois, graças a ele que aqui estou no grande Portugal.

O grande Portugal.

Comecei a visita por

Mogdura
Actual Essaouira
Anteriormente chamada Amogdul Berbère (a bem guardada), Mogdura en português, Mogadur em espanhol et Mogador em francês, Essaouira (الصويرة‎) (a bem desenhada).

Esta cidade piscatória situa-se 350 Km a sul Casablanca, a 175 Km a oeste de Marrakech e a 170 Km a norte de Agadir.

É uma das cidades mais atraentes de Marrocos graças ao seu património cultural e arquitectónico com a sua Medina ao estilo Marroco-Português que mantém, até hoje, a sua beleza e a sua estrutura medieval.

Com as suas Riads restauradas, implantadas em ruelas de casas caiadas de branco, de portadas azuis, exóticos cafés, lojas de artesanato, passagens estreitas e sombrias, com recantos romântico-misteriosos que caracterizam esta cidade... mas que fazem lembrar um Óbidos Oriental.

É uma das obras-primas da arquitectura do século XVI.

E, por isso, a Medina, o “kasbah” e o “mellah” (bairro judeu), fazendo parte da antiga cidade cercada por muralhas foram consideradas em 2001, pela UNESCO, Património da Humanidade.

Tem um encanto e autenticidade de uma terra perdida no tempo, com um povo que cultiva a hospitalidade, fruto, talvez, de uma mistura secular de culturas e religiões.

Serão todas estas as razões da atracção que sentem inúmeros artistas de todos os ramos da cultura, nacionais e estrangeiros, que por aqui passam ou que por aqui ficam?

É, porventura, na História de Marrocos, a cidade onde maior número de culturas aqui permaneceu, pois cá estiveram os Fenícios, os Romanos, os Cartagineses. Os Berberes, os PORTUGUESES, os espanhóis, os holandeses, os ingleses, os Judeus e os Franceses.

No pouco tempo que dominámos esta cidade mandou o nosso rei D. Manuel edificar uma fortificação chamada Castelo Real de Mogdura, que governámos de 1506 a 1525.
Este castelo possui o ex-libris da cidade, a Scala, uma plataforma fortificada com cerca de 200 metros de comprimento.


Rotas e Destinos publicou sobre Essaouira

Ninguém sabe, ao certo, de onde vem o fascínio que Essaouira exerce sobre os viajantes, mas há quem diga que se trata de um encantamento provocado pelo vento que sopra forte por entre as ruas e as vielas da medina desta pequena cidade piscatória. Pela sua autenticidade anacrónica, tornou-se um local mítico para uma pequena elite de intelectuais, uma espécie de refúgio-fetiche de pintores, escritores, músicos, actores e realizadores cinematográficos do mundo inteiro.

Ruas estreitas e angulosas procuram proteger os moradores dos fortes e constantes ventos alísios vindos do Atlântico, que se entranham no recato dos lares muçulmanos.

Calcula-se que Mogador, o seu primeiro nome, tenha raízes no Fenício antigo, uma palavra que significa torre de vigia e se presume que seja o monte desordenado de pedras batido pelo mar situado no extremo mais distante da praia. Porém, a fama da cidade é ainda mais remota. Tanto os cartagineses como os fenícios faziam aqui as suas trocas comerciais, trocando seda e especiarias por ostras, penas e ouro africano. Por sua vez, nos tempos do império romano, a região – que inclui a península onde hoje se ergue a cidade e a ilha de Mogador, na baía – ficou conhecida como as Ilhas Púrpuras, pois era este o local de onde provinha o corante púrpura mais requintado, extraído dos moluscos, que era usado para tingir as roupas dos imperadores.

Em 1764, o sultão Mohammed Ben Abdallah decidiu instalar na antiga Mogador a sua base naval, transformando-a no único porto autorizado para contacto entre o reino e o Ocidente.

Pouco depois passa a viver aqui uma elite de mercadores judeus com um estatuto especial de intermediários entre o sultão e as potências estrangeiras, obrigadas a instalar um consulado no local.

Quanto à nova cidade, o seu desenho – o plano original está conservado na Biblioteca Nacional de Paris – foi encomendado a Théodore Cornut, um arquitecto francês a soldo dos ingleses de Gibraltar, entretanto expulso sob acusação de espionagem. Uma outra versão da história conta que Cornut já estava aprisionado em Marrocos, e que trocou a sua liberdade pela realização gratuita do projecto arquitectónico. Mas, lendas à parte, ficou na memória o sucesso do seu traço, que deu origem ao nome actual de Es Saouira, que significa “a bem desenhada”.

Depois disto, a importância da cidade como posto de trocas e de contrabando de piratas não parou de crescer até ao início do século XX, quando finalmente foi caindo no esquecimento de todos.

Aqui convivem duas tribos locais – os chiadma (árabes) e os haha (berberes) –, a etnia dos gnaouas, descendentes dos escravos negros que acompanhavam as caravanas de ouro e sal vindas do Sudão, e cerca de um milhar de ocidentais que vieram em visita e decidiram ir ficando… sem previsão de partida.

De facto, as mágicas dunas do Cap Sim, nos arredores da cidade, e a sua magnífica praia deserta merecem um passeio mais atento (num veículo todo-o-terreno).

Texto retirado da revista Rotas e destinos

Safim
Actual Safi

Safi é acapital da cerâmica marroquina, antiga Asfi do tempo dos romanos que também por aqui passaram, é uma cidade de 300.000 habitantes, capital de uma região com 2 000 000.

Trata-se, infelizmente, de uma cidade industrial muito poluiodora pelas suas fábricas de cimento, químicos e fosfatos.
A beleza das suas praias e da cidade não mereciam este progresso.

A indústria de conserva de sardinha foi a primeira indústria de Safi, seguida da dos minerais de Jbilet, dos fosfatos de Youssoufia e do complexo químico a sul da cidade.

Os portugueses conquistaram-na e dominaram-na de 1488 até 1541, quando a abandonaram, voluntariamente, após a perda de Agadir.

Mais uma vez o pouco tempo de invasão permitiu deixar de legado o Castelo do Mar e a Catedral Portuguesa.
Construímos a cidadela portuguesa e renovámos a área do kasbah.

Mazagão
Actual El jadida

Situação Geográfica
Situada na costa atlântica de Marrocos, na latitude do mesmo paralelo de Los Angeles, na Califórnia, e em longitude no mesmo meridiano que o extremo Oeste da Irlanda.

El Jadida é uma cidade portuária e industrial com cerca de 180.000 habitantes situada a 90 quilómetros a sudoeste de Casablanca, 180 quilómetros a oeste de Marrakech a 240 quilómetros a Norte de Essaoira e a 17 quilómetros do Cabo Branco.
É uma cidade industrial um pouco poluída pelo seu grande parque industrial, servido pelo maior porto comercial de Marrocos, o Porto de Jorf Lastar, que dá vazão aos fosfatos da fábrica JLEC.

Todas estas cidades marroquinas da costa Atlântica, pela sua situação estratégica de bons portos naturais, foram habitadas por diferentes povos que, consoante a sua linguagem, assim lhes mudavam os nomes.

Os Fenícios estiveram aqui, em 650 A.C.,o almirante cartaginês Hannon foi o primeiro a escrever sobre esta cidade, Ptolomeu chama-lhe Rusibis, os portugueses conquistam-na em 1506 e dão-lhe o nome de Mazagão.

Em 1542 o rei D. Manuel manda ali erguer uma moderna fortaleza renascentista inexpugnável, constituída por vinte e um baluartes colocados numa cintura de espessas muralhas de 5 metros de largura, 7 metros de altura e 3 quilómetros de comprimento. Efeito da mudança da guerra neuro-balística (armas de arremeço) para a guerra pirobalistica (de armas de fogo).
Esta estratégia mostrou-se eficaz, resistindo esta fortaleza durante dois séculos a guerras e cercos.
Devido a estes cercos, tiveram os portugueses de transformar uma sala de armas de arquitectura Manuelina, em cisterna.

A Cisterna Portuguesa é uma ampla construção subterrânea de 33 por 34 metros coberta de abóbadas manuelinas suportados por 25 colunas do mesmo estilo arquitectónico, esquecida durante anos e descoberta por casualidade em 1919.
A água que cobre o chão pela mistura da semi obscuridade com a entrada de luz pela abertura circular to tecto, cria finos e excitantes reflexos de luz e sombra ao reflectir-se nela o tecto, as colunas e a abertura circular de luz, dando a este lugar um carisma romântico-misterioso, surpreendente e indescritivel.

Dotámos assim o mundo da mais bela cisterna alguma vez vista, aproveitada por Orson Welles para lá rodar cenas do filme Othelo.

O marquês de Pombal, como bom estratega que era, achou, penso eu que erradamente, que os portugueses que ali estavam faziam mais falta no Brasil do que aqui, isto na ideia de garantir a soberania da nossa principal colónia nesse tempo já abalada, e manda abandonar Mazagão enviando a totalidade dos seus habitantes para Amazónia, no Brasil, onde fundaram uma nova cidade chamada Nova Mazagão, na região de Amapá, hoje chamada Mazagão.

Existe também em Bombaim uma outra cidade chamada Mazagão, também de origem portuguesa.

Bom estratega?

O Brasil tornou-se independente pouco tempo depois e se os portugueses ali têm ficado, a exemplo de Mellila e Ceuta, eu, quando viesse para Norte, no final das minhas incursões, teria um lugar onde poderia comer um grão com bacalhau, desenjoando assim das múltiplas tagines que tenho de degustar.

O marquês, antes de abandonar a cidade, manda minar a fortaleza, que explode quando os mouros a invadem, sacrificando o herói português que lá ficou para o fazer (de que não sabemos o nome) e matando muitos dos assaltantes.

A partir daí a cidade em ruínas passa a chamar-se Mahdouma “A destruída”.

Em 1832 é restaurada a fortaleza e passa a chamar-se El Jadida “A nova”.

Foi então habitada, como nas outras cidades da região, por numerosos judeus cujos bairros, os Mellah, podem ser apreciados na velha Medina.
Estes abandonam a região aquando da formação do estado de Israel, não sem antes e sobre o protectorado francês, a cidade ter mudado o nome para Mazagan, voltando a chamar-se El Jadida em 1956, aquando da independência de Marrocos.


A cidade fortificada portuguesa de Mazagão foi registada em 2004 pela Unesco como património da humanidade, tendo sido considerada a adesão na base de modelo de intercâmbio e influência entre a Europa e a cultura Marroquina, e num claro exemplo da realização e integração de ideais renascentistas na tecnologia de construção portuguesa.

A cidadela portuguesa no interior do castelo, para se ter uma ideia das suas sinuosas ruelas, becos e arcos, basta subir e dar uma volta pelo caminho de ronda das muralhas aproveitando a óptima vista sobre a Medina e o mar.

Na cidadela em todo o lado há património português, a cisterna, a igreja portuguesa, os portais das casas com arcos de cantaria, os nomes lusitanos das ruas e até a igreja espanhola escolheu para nome Igreja de S. António de Pádua mas que, afinal, é de Lisboa.

O nosso principal legado patrimonial foi o Castelo do Mar, a cisterna portuguesa, e a igreja de Nossa Sr.ª da Assunção, a cidadela portuguesa,etc.

Pois, pois, depois de tanta escrita falta é uma estória que, como sabem, está sempre relacionada com algo de estranho que só a mim acontece e que foi, neste caso, a tentativa de visita a este templo.

Estória

Tal como em Safi, tentei visitar a sé portuguesa, não o conseguindo por o guarda não comparecer e a porta permanecer teimosamente fechada, aqui deparei com idêntica situação e enquanto visitava a cidadela portuguesa passava, de vez em quando, pela igreja para ver se assomava o guardião.

Nessas incursões deparo com um muçulmano a sair de uma porta lateral da igreja com algumas grandes chaves à cintura e dirijo-me para ele com contentamento.

Lá ia conseguir entrar na Igreja de Nossa Senhora da Assunção.
A igreja em mau estado de conservação é um património arquitectónico Manuelino.

Não estranhei o guarda estar conservadoramente vestido de muçulmano, só falar árabe dizendo poucas palavras em Francês, tal como não estranhei a pergunta se eu era paquistanês, que importava isso, eu estava contente com aquela oportunidade e o guarda percebia o meu interesse e acompanhei-o até à porta onde ele meteu a chave.

A porta abriu-se, eu tentei entrar mas o guarda agarrou-me e mandou-me descalçar.

Ao seguir o guarda nem sequer me apercebi que o edifício para onde fomos não era a igreja...

Era uma mesquita sem ninguém no seu interior, parei, pensei, hesitei e cá estava a oportunidade já pensada algumas vezes, finalmente entrar numa mesquita. O guarda tinha de pensar que eu era islamita.

Descalcei-me e entrei sob a visão do guardião da mesquita, orei com todo o respeito e na posição que os maometanos usam para o fazer, que eu sei que é de cócaras e de rabo levantado e mais não sei.

Tentei usar aquele instante com todo o respeito, aproveitando para retribuir a Alá o meu agradecimento por não ter tido problemas, e tudo ter corrido quase bem no acompanhamento do Euromilhões Lisboa Dakar e para agradecer, já agora, por mais isto e por mais aquilo e por mais aqueloutro.

Mas pensam que consegui?
Não.

Na minha cabeça misturava-se a estupefacção de ali estar, com a surpresa do que me tinha acontecido, com o receio de ali permanecer até por o guarda se poder aperceber de que eu nem orar sabia, eu, um infiel, que pela lei islâmica não mo é permitido, podendo até sofrer sanções físicas pelo acto.

Mas ali estava, garanto-vos, com o máximo respeito do mundo pelo lugar onde me encontrava.

Não tenho religião, acho que as religiões foram inventadas pelo homem com vários e inúmeros propósitos, mas sou uma pessoa que estudou ciências e, ao estudar o corpo humano e o seu funcionamento, a vida, a terra, o universo, a física, a química, tudo, a perfeição que encontrei é tal que, para mim, uma pessoa em que todo pensamento assenta na lógica, tem que acreditar que houve um acto de criação de tudo isto e, para haver criação, tem que haver Criador.

Já tinha estes pensamentos nas aulas de Religião e Moral e expunha-os ao professor dessa disciplina, o Sr. Padre Afonso que, com o seu facciosismo, chegou comigo ao dele pecado da ira, ao dar-me uma brutal bofetada, quando eu, com doze ou no máximo catorze anos, lhe disse que, quando desejava uma mulher pela sua beleza e pelo que eu sentia, isso seria uma forma de adorar a Deus, e que Lho agradecia pela felicidade que me dava em ter tais pensamentos e nos actos que isso envolvia.

Pois se no mundo ocidental já sofri pelos meus pensamentos religiosos ali, em que o facciosismo é maior, poderia sofrer muito mais.

Com todos estes pensamentos quem consegue concentrar-se e orar?
Fiz um esforço, tentei a meditação, e só consegui isto:

-Meu Alá, Tu sabes o que se passa na minha mente, lês os meus pensamentos, sabes o que te queria comunicar, por isso dizer-Te o quê, e para quê?
Tu já conheces a minha adoração a toda a natureza que tão bem criastes e que, de tão perfeita, me faz pensar que Tu és ela ou que ela és Tu. (É uma teoria que talvez um dia vos conte porque é muito mais complicada do que isto).
Obrigado e continua com a Tua perfeição para nosso gozo divino.

Depois disto, a minha sorte é que nenhum islamita encontre este blog e, se o encontrar, que não chegue a estas linhas, o que será fácil pois que, com tanta verborreia, se enfastiará e só contemplará as fotografias.

Caso haja denúncia, o melhor será encontrar-me com o Sr. dos Versos Satânicos para saber o caminho a trilhar.

Azamor
Actual Azemour

A cidade de Azemour, que significa em berbere ramo de oliveira, é uma povoação afastada dos circuitos turísticos.

É ladeada pelo Rio Rabie e dividida em duas partes distintas, a moderna e a antiga.

Foi edificada sobre a antiga cidade fenícia de Azama e fica




16 quilómetros a Norte de El Jadida e a 72 quilómetros a sul de Casablanca.

A cidadela portuguesa, que é a parte antiga, está envolta num castelo edificado pelos portugueses, após a sua conquista pelo Duque de Bragança numa curta batalha em 1513.

Os árabes, ao verem o Duque comandar uma esquadra de 500 navios, nada puderam fazer.( Li isto em escritos marroquinos. Será possivel terem sido tantos os navios?)

Mas já em 1481 esta região estava submissa ao rei D. João III, com o estabelecimento de um tributo anual de 10.000 aloses.

Em 1541 os portugueses evacuam esta praça.

Vinte e oito anos de ocupação foram suficientes para ali deixarmos a nossa influência, principalmente na arquitectura.

A cidadela portuguesa com o seu castelo de seis bastiões, a necessitar hoje de cuidados, possui no cimo das suas muralhas um caminho de ronda que permite ver toda a Medina.

Parte da Medina está em ruínas e a que foi restaurada não respeitou uma característica arquitectónica que se pensa única no mundo e que, caso os dirigentes de Azemour não venham a respeitar, se perderá, perdendo-se com ela a importância desta cidade.

Em Azemour na cidadela portuguesa existe uma arquitectura única de influência portuguesa que são as suas casas, ou melhor, as

portas das suas casas.

Estas são a única parte da habitação com aspecto criativo pela sua decoração e ornamentação oriundas das primitivas portas portuguesas.

Foram moldadas pelos antigos mestres de harmonia com a ruela onde está inserida o valor da casa e a importância do seu proprietário.

Infelizmente as casas vão sendo demolidas e substituídas por outras com portas banais.
Caso isto não acabe, qualquer dia só as fotografias e alguns quadros como o de Stacy Elko nos permitem admirar esta singularidade.






A porta é a única abertura exterior da casa.




As casas são quadriláteros de paredes rústicas sem qualquer ornamentação,excepto nas caracteristicas portas, sem janelas pois todas têm um páteo interior e só esta originalidade dá valor a esta Medina e a Azemour.