2006/05/28


ESTÓRIAS MOTORES RODAS E SAHARA
.








Olá a todos


Estou a começar este blogg, onde pretendo misturar as minhas estórias com os meus “hobbies” ou paixões – motores e motores ligados a rodas.






E conto-vos que já tenho um seguidor a quem deixar a minha frota: o meu lindo neto (os avós são assim).
Ele fica especado quando vê uma “bôta” (mota, na sua linguagem de ano e meio) e já faz comigo, ao meu colo e ao volante, 100 metros diários na rua onde moro, voltando para casa a pé (se contarem isto à GNR desminto). Claro que não tem trânsito e claro que não se deve fazer.


Mas ele não é o único a adorar motas (vejam a foto).














Sou médico e comecei a trabalhar há já algum tempo em expedições em África, numa empresa de eventos (http://www.ideiasnómadas.com/) (digo, em vez de trabalhar a divertir-me, pois é norma das nossas viagens proibir as pessoas de terem contacto com doenças).






Tornei-me, modéstia à parte, num expert à minha maneira em desertos e também nas diferentes formas de estragar e atular jipes.















As minhas estórias penso que são giras, pois misturam a tentativa de ser perfeito e eficiente com as minhas muitas distracções.

E quando é que eu me distraio? Pois quando estou a fazer uma coisa e a pensar em duas ou três outras ao mesmo tempo. Se eu pensar só numa coisa, o que estou a fazer sai bem.

Vou começar pela minha última estória. E é pela última não porque a arteriosclerose me esteja já a atacar, mas pela urgência que esta estória implica.

No sul de Marrocos, antigo sahara ocidental espanhol, situa-se o Cabo Bojador, dobrado pela primeira vez pelo navegador português Gil Eanes e que nós, na nossa romanceada História, pensávamos ser um lugar de difícil passagem devido a tempestades, mar revolto etc. (Quem quer passar além do Bojador/Tem que passar além da dor, disse Pessoa).


Eu já passei por lá 6 vezes e vi sempre um mar muito sereno, onde eu próprio com um barco a remos (mas com motor) seria capaz de passear.

Descobri, entretanto, pois não sou um expert em História, que o problema dos navegadores portugueses era o de que a sua progressão se fazia a bombordo (lado do barco donde se avista terra), pois no Bojador, como podemos ver pela fotografia, a profundidade do mar mesmo a centenas de metros da costa é muito baixa, e o perigo de encalhar era grande, e para o evitar tinham de se afastar demasiado de terra; caso deixassem de a ver havia o perigo de chegarem ao Brasil, que eles não sabiam que existia.
Esta baixa profundidade é hoje aproveitada por "armadores" sem escrúpulos, para abandonarem os antigos navios, não tendo em conta sequer a beleza natural desta baía, de água de cor indescritível.


Se o infante D. Henrique tivesse imaginado chegar ao cabo da Boa Esperança em 4X4, essa descoberta teria sido mais tardia mas mais segura, e o UMM teria sido fabricado mais cedo.

Mais a sul de Marrocos situa-se a última cidade marroquina, chamada Dakla situada já a muitos Km da capital do Sahara Ocidental

El Aaiún ou Layoune.




Para sul de Dakla fica uma estrada estreita e com movimento quase nulo, com grandes rectas, que atravessa a terra dos nómadas levando-nos à fronteira da Mauritânia.



Pois foi a cerca de 120km para sul de Dakla que tudo começou.

Dois carros e um reboque com motas para os clientes do Saharateam seguiam à minha frente numa pasmacenta velocidade de 80 e por vezes 82Km/hora com alguns percalços que dão tempo para tudo.


















Nesta estrada passo mais tempo a olhar para a esquerda, terra dos nómadas, e para a direita, o mar dos conquistadores portugueses, do que para a frente.


Pois diz-se que as palavras são como as cerejas, pois vamos então à estória.

















Mas antes e depois de ler o que atrás está escrito, fiquei com a sensação que vocês pensam que vou lá para sofrer.

Nada disso. Nós só falamos do mau, pois vou mostrar-vos o lado bom.

Começo pelos pervilegiados que não fazem a tal estrada.



















Continuo com os hotéis onde costumamos ficar.














No deserto, por vezes, as coisas mais simples são fantásticas.



















Acampamentos? O que acham?

O convívio é fácil e muitos são os temas de conversa

e o que aconteceu aqui no final não é o habitual. O habitual é criarem-se grandes amizades.





Felizmente o Dakar não passou neste dia
E com respeito a companhia, podem arregalar os
olhos.










uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu

Estória

Em terras de nómadas, onde só passa um carro de vez em quando e onde já sabem que eu às vezes por ali passo, foi criado o hábito que o carro que vem de frente acende os faróis. É capaz de ser para cumprimentarem, mas também pode ser para que tenham a certeza de que eu os vejo.

Nessa estrada estreita e sem ninguém encontro na berma uma mota inglesa parada, com o motard completamente despreocupado. Passo por ele e penso 'será que o homem está com problemas? Se está e ninguém o ajudar, quando eu voltar para norte posso encontrar apenas os ossos'.
Inversão de marcha – resultado: inglês mais velho que eu, com uma BMW um pouco mais nova que ele e que, devido à tempestade de areia, tinha areia nos carburadores.
Como, não sei, mas penso que aprendeu que no deserto, quando está vento, não se desmontam motas e nós, sabendo isto, também não desmontamos nada, sorte do senhor pois com a nossa vontade de ajudar ele corria o risco de ficar com a mota definitivamente desmanchada por não sermos capazes de a montar.

O bom samaritano resolveu ajudar o inglês.

Agarrou nele e nos sacos, e ainda no capacete, e tentou metê-lo no pequeno jipe que “roubou” à mulher, pois o dele é longo, bom, mas está estragado.

Primeira manobra: tentar meter toda a mercadoria no atafulhado jipe.
Abri a bagageira e arranjei um pequeno espaço para meter o capacete.

O inglês apercebe-se do problema, senta-se no banco da frente e coloca todos os seus sacos sobre ele.

Voltamos para trás alguns quilómetros e encontramos muitas casas novas, numa aldeia bonita, mas nenhum habitante... mistérios de um território em organização.

Lá voltamos nós mais 60Km para trás, o que em África não é nada, encontramos uma bomba de gasolina em construção, mas que já tinha telefone e onde um “expert” empresário marroquino tinha deixado um cartão de “dépanaje” reboque.
Combinámos por telefone, com o marroquino, para vir buscar o inglês à estação de serviço e a mota à estrada.

Lá deixámos o inglês, que não sabia uma palavra de francês, em terras onde aquela gente não sabe uma palavra de inglês.

Viemos embora, com o agradecimento profundo do já nosso amigo motard e com a sensação do dever cumprido.

O meu chefe de Ideias Nómadas fica muito nervoso quando a distância entre nós já não permite o contacto via rádio.

Eu já o imaginava de 10 em 10km a ver se tinha rede no telemóvel e depois a pensar que, afinal, ali não há rede.

Tal como não há rede, também não há radares controladores de velocidade. Os carros da frente acendem as luzes e só é preciso cuidado com algumas dunas, que sabem que o asfalto não pertence ali, e com os camelos que, não percebo porquê, não estão sempre do mesmo lado da estrada. Até porque os dois lados da estrada são iguais… Porque é que passam dum lado para o outro?

120 km de distância para o “boss” necessita de muito gás. E olho com tristeza para as boas fotos que não posso tirar, mas que tenho a esperança que já estejam arquivadas no computador, de outras viagens à Mauritânia, pois variar de estrada para este destino não é possível.


Ao fim de umas centenas de quilómetros para sul começo a ouvir na rádio a voz roufenha do grupo.
Estavam na última estação de serviço de Marrocos e já não podiam passar para Nouadibou, onde tínhamos um bom hotel marcado. A fronteira fechava ao cair da noite. Calculei eu o motivo – não têm electricidade (é que toda aquela burocracia à luz da vela não deve ser fácil).


Comecei a pensar onde é que o grupo se iria alojar; sabia que a estação de serviço tinha quartos, mas… como seriam os quartos? No entanto, mais valia ficar num quarto do que numa tenda.






Não o entendeu assim um amigo meu que, na mesma viagem, em vez de levar um saco cama, levou por engano outra tenda, tendo assim dormido com duas tendas.
http://www.ideiasnómadas.com/ após reunião, resolveu com aprovação por unanimidade, cobrar apenas uma dormida, tendo considerado para situações futuras, "dormida em tenda envolto noutra".










.

Pensei também na "comodidade" do banho e fiquei contente por o poder tomar a "solo".

uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu


Parei o carro no que Alá transformou o destino daquele dia.
Mal o “boss” me viu, veio a correr para me dar a chavinha da suite, ou melhor, para aproveitar para me dar a “rabecada” pelo meu atraso. Eu desboquei, “passarem antes de mim pelo inglês e nem sequer pararam”, ofensa para o chefe que também é motard.

Abro a bagageira para levar a mochila para a suite e… espanto meu, seguido de ruidosa gargalhada, (só rimos da desgraça) ali estava o capacete do motard inglês que eu tinha deixado ficar 500km a norte.

Ainda se alvitrou a devolução do capacete, mas como 500km mais 500km dá 1.000km, começámos a imaginar que em Dakla ele o conseguiria substituir, talvez por um penico de esmalte… (isto não é maldade, mas a situação deu para o divertimento).


Esta estória talvez sirva para conseguir devolver o capacete e para saber se a resolução alvitrada se concretizou ou se o inglês teve o engenho e arte de arranjar melhor solução .

Vou enviá-la a vários clubes de motards portugueses e depois de retrovertida em inglês para todos os clubes de motards ingleses, que para além de ficarem a conhecer as nossas actividades, talvez tentem descobrir o antigo dono do capacete.

Eu tenho urgência nesta devolução, pois agora tenho um bom capacete e não tenho mota… E caso acabe por ficar com ele o resultado final está-se mesmo a ver: amante de motores e de rodas, já estou a olhar para uma Suzuki 600, baixinha e sem carnagem, ou será que eu não ficaria melhor com uma KTM?

Que Deus me dê juízo!!! E ao inglês também.



Na restante viagem, como as fotos abaixo documentam, correu quase tudo bem.

No TT, todos os dias são plenos de actividade, de acontecimentos e até porque parte-se quando se pode e chega-se quando se consegue, havendo sempre muitas estórias.


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Querem mais estórias?

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Ou preferem participar?




www.ideiasnómadas.com



Stories, motors, wheels and Sahara

Hello every body!

I am starting this blogg with a story, a true story, which I URGE to settle, because I am fond of motors and wheels. You’ll understand the urgency to resolve this on the lines below.

Last Easter I was travelling once again to Sahara with some friends of my Saharateam http://www.saharateam.com/ when I crossed with an Englishman on the southest road of Morocco, near Dakla, far away from the late capital of West Sahara, Layoune.

Going south from Dakla there is a narrow road, with few traffic and long straight roads, crossing the nomads land and leading us to the Mauritanean border.

Everything started 120km south Dakla. Two cars and a truck with motorcycles for the Saharateam clients were being driven at 80 or 82km/hour (high speed, as you see) and I was behind them.

A sort of “rule” was established in that part of the desert, the first car puts the lights on, either to greet or for them to know that I’m there again.

On that narrow road, with nobody, I find an English motorcycle, no worry on the face of the motard, and I think to myself “may be this man is having some problems. If he is and nobody helps him, when I return north I will find only his bones”.

I made a u-turn and the result is: an Englishman older than me, with a BMW a little bit younger than him, with lots of sand in the carburettors due to a sand storm. I think he learned that in the desert, with wind, the motorbikes should not be dismantled.

The good Samaritan decided to help the Englishman. He tried to put the bags and the helm in the back of the jeep with all the other luggage but… no chance. The little jeep was full. However, there was enough room for the helm. The Englishman sat on the right seat, with his bags over him.

Driving back for some help we found many beautiful houses in a beautiful village, but… nobody. Going 60km further north we found a service station in construction, which had already a telephone and where an “expert” businessman had already left some cards for “dépanage” trucks. We ascertained with the “expert” businessman to pick up the Englishman at the service station, as well as the bike on the road.

And there he stayed, waiting for the “rescue” and thanking me for the trouble, and I went again south to join my group.

I drove the fastest I could to reach my team, my “boss” being already a bit upset and, after some hundreds of km south we finally reached the last service station in Morocco. We could not go any further, to Nouadibou in Mauritania, where we had an hotel booked, because the border was already closed – no electricity, and it was hard to do all that bureaucratic work with a lamp.
So we decided to stay in the service station, have a shower and sleep in the possible bedroom, while one of my friends preferred to camp.

When I opened the back of the jeep to pick up my luggage I laughed to tears!!! Guess what I found – the HELM of the Englishman. I forgot it was in the back of my car, so did he.

Now you can understand the problem I URGE to settle: either I find the Englishman and give him back the helm or, being fond of motors and wheels, I will have to buy a motorbike.

Can you help me?

I have already seen a Suzuki 600, or should I buy a KTM? Because the helm I have already…

May God help me to settle down…