2006/07/15

A PIOR PISTA DA MAURITÂNIA .


Cá vai mais uma estória e mais uma vez na Mauritânia e, como não podia deixar de ser, com um importante cliente da Idéias Nómadas, www.saharateam.com.

Todos os clientes são importantes e todos são iguais, mas há uns mais iguais que outros (li isto num tratado sobre democracia).

Desta vez foi com um arquitecto que o chefe colocou, logo comigo, a compartilhar o mesmo jipe.
Ele, coitado, estava com um certo receio, andámos juntos um só dia, desistiu e já vão saber o porquê.

A "expedição" era constituída por pick-ups alugadas para poucos dias e muitos quilómetros, com guia, cozinheiros e montadores de tendas.

Logo no primeiro dia e no primeiro grande erg (conjunto de dunas), atolanços e dificuldade em prosseguir.
O meu chefe já estava lá em cima e diz-me por rádio:
- Tem que meter baixas (posição da caixa de velocidades que permite mais força), tem que ganhar embalagem e tem que me contornar pela esquerda.

Eu, nas dunas, ando bem, excepto quando chego à crista e não vejo em frente e faço o que não se deve fazer, tiro instantaneamente e de forma involuntária o acelerador e o jipe fica overcraft a chegar ao porto, metendo-se pela areia adentro, atolando-se.

Aqui não haveria problemas pois tinha a indicação da passagem.

O chefe estava na crista da duna e dizia-me para o contornar pela esquerda, seria pois a passagem certa, pela direita não se devia poder, por ser talvez uma vertente muito acentuada ou um buraco no meio das dunas.

Chefe tem sempre razão, excepto quando me manda andar devagar e lá atrás no pó, aqui era quanto mais velocidade melhor, acedi prontamente, acelerador a fundo e preparação para montanha russa.

Mas ainda hoje estamos para saber se ele me mandou contornar pela esquerda ou se eu ouvi que era pela esquerda.

Resultado, uma hora para tirar o jipe daquela situação e sítio.

O chefe garante que me disse que era para contornar pela direita.

O arquitecto, a seguir, e com alguma razão, tomou conta do volante, não o largando mais.

Lá continuámos, pista, dunas, oásis, pista, areia e o arquitecto sempre a queixar-se que não gosta de conduzir carros, principalmente aqueles em que se tem que mexer na alavanca de mudanças e a dizer-me que da próxima vem de
mota, mas deixar-me conduzir é que nada.

Eu achava que ele tinha o direito de conduzir, pois o jipe era para os dois, mas se não gostava, para que insistia?

Ir ao lado tem também as suas vantagens, os olhinhos conseguem ver tudo e a paisagem merece minuciosa observação.

São planícies castanho-douradas, a perder de vista, numa imensidão em todo o redor, semeadas com alguns arbustos e acácias, vendo-se alguns nómadas nos seus dromedários e com elevações erosionadas pelo vento, com formas distintas, cinéfilas e que nos excitam com a sua beleza e cor.

A jornada foi longa e dura e, com ele ao volante, andava-se mais devagar, com o chefe sempre à nossa espera.

O arquitecto é motard e a relação dele com a prática do todo o terreno e com a areia é óptima nas motas, mas nos carros....

Íamos jantar a Atar e dormir no hotel, comecei a ver que o jantar se ia tornar ceia e que o dormir teria que ser apressado.

O arquitecto lá continuou agarrado à rodinha, fez-se noite e, cansado, desistiu.

Lá fui eu para o volante, de noite, e digo-vos, fiquei tramado, estive quase para lhe dizer não, mas a fome apertava e comigo a conduzir íamos chegar meia hora mais cedo, pensava eu.


Entre Akjoust, uma povoação que no mapa parece uma grande metrópole mas que se resume a alguma população e duas bombas de combustível, e Atar, coração histórico e turístico da Mauritânia, que este ano, bem como em anos anteriores, pilotos e caravana do Lisboa Dakar 2007, têm o seu dia de descanso, fica a pior pista deste país com um piso que é diferente da restante Mauritânia, com pista com muita pedra, aberta no meio de pedras um pouco maiores, que de dia se confunde com o restante terreno e onde à noite tudo é igualmente pardo, seguíamos já distantes do carro do chefe.


O arquitecto tem pavor de se perder e só confia no chefe, gosta de andar no pó dele, eu detesto pó e as luzes traseiras do carro da frente, na sua dança, quase me hipnotizam; e ele já ouviu uma estória da minha pessoa, a ter tentado atravessar umas dunas enormes no sul de Marrocos, cuja direcção o GPS indicava, paralelas à fronteira Marrocos-Argélia, zona ainda por cima minada, mas isso foi na segunda vez que lá fui e os pontos GPS eram digitados à mão, o que podia levar a enganos, como aconteceu, sendo isto mais uma razão para ele não confiar em mim.


Alá neste dia não estava comigo, perdi a pista e, em vez de voltar para trás, prossegui no meio dos calhaus, evitando os maiores, seguindo o GPS e tentando mais à frente retomá-la.

Todo o cuidado era necessário, pois além de poder lesar o carro, não queria furar e de repente ali estava a pista, meti nela e começámos a seguir em direcção transversal à que anteriormente seguíamos, portanto era outra pista e pensei que se a seguisse e como ia em direcção a um monte que estava "já ali", encontraríamos provavelmente outra que nos levasse na direcção correcta.

Gritos no carro e agora já não eram só do arquitecto, o nosso guia que viajava no banco de trás entrou também no coro de protesto, ambos com medo de se perderem.

Pensei, querem ir por cima dos pedregulhos então levem o jipe, mas por respeito lá fiz mais um pouco de trial, a dois quilómetros por hora, jincando os pedregulhos maiores e ao mesmo tempo travando-me de razões com os meus dois
companheiros.

As pedras eram mesmo grandes e a situação horrível.
Sabem o que é andar de jipe com uma roda em cima de uma pedra, a outra roda a subir a outra pedra, a roda de trás a descer um pedregulho e a quarta roda nos dez centímetros que distam entre duas pedras e com os olhos nos pedregulhos da frente para tentar evitar o embate? E isto em quilómetros de extensão e sem ter a certeza de quando alcançar a pista, com três pessoas nervosas no jipe, o chefe lá à frente à nossa espera, fome, cansaço, escuridão, pois no deserto,
por bons faróis que se tenham, de noite vê-se sempre mal, horroroso.

E o evitável não o foi.

Repentinamente, pum pum, o jipe saltava ainda mais e ali o deixámos com o veio de transmissão, que é um ferro grosso e direito, agora transformado num ferro em forma de oito, e isto no centro da Mauritânia, longe de tudo e sem possibilidade de qualquer assistência.

A próxima estória passa-se dois dias depois desta e vai ser sobre a "mosca".
Tenho de me preparar mentalmente para vo-la contar, pois não quero que pensem na sua inverosimilidade.

2006/07/12

Stories, motors, wheels and Sahara


Hello every body!

I am starting this blogg with a story, a true story, which I URGE to settle, because
I am fond of motors and wheels.

You’ll understand the urgency to resolve this on the lines below.

Last Easter I was traveling once again to Sahara with some friends of my Saharateam http://www.saharateam.com/ when I crossed with an Englishman on the southwest road of Morocco, near Dakla, far away from the late capital of West Sahara, Layoune.

Going south from Dakla there is a narrow road, with few traffic and long straight roads, crossing the nomads land and leading us to the Mauritanian border.

Everything started 120km south Dakla.

Two cars and a truck with motorcycles for the Saharateam clients were being driven at 80 or 82km/hour (high speed, as you see) and I was behind them.

A sort of “rule” was established in that part of the desert, the first car puts the lights on, either to greet or for them to know that I’m there again.

On that narrow road, with nobody, I find an English motorcycle, no worry on the face of the motard, and I think to myself “may be this man is having some problems. If he is and nobody helps him, when I return north I will find only his bones”.I made a u-turn and the result is: an Englishman older than me, with a BMW a little bit younger than him, with lots of sand in the carburetors due to a sand storm. I think he learned that in the desert, with wind, the motorbikes should not be dismantled.

The good Samaritan decided to help the Englishman.

He tried to put the bags and the helm in the back of the jeep with the other entire luggage but… no chance. The little jeep was full. However, there was enough room for the helm.
The Englishman sat on the right seat, with his bags over him.
Driving back for some help we found many beautiful houses in a beautiful village, but… nobody. Going 60km further north we found a service station in construction, which had already a telephone and where an “expert” businessman had already left some cards for “dépanage” trucks.
We ascertained with the “expert” businessman to pick up the Englishman at the service station, as well as the bike on the road.
And there he stayed, waiting for the “rescue” and thanking me for the trouble, and I went again south to join my group.

I drove the fastest I could to reach my team, my “boss” being already a bit upset and, after some hundreds of km south we finally reached the last service station in Morocco.

We could not go any further, to Nouadibou in Mauritania, where we had an hotel booked, because the border was already closed – no electricity, and it was hard to do all that bureaucratic work with a lamp.

So we decided to stay in the service station, have a shower and sleep in the possible bedroom, while one of my friends preferred to camp.

When I opened the back of the jeep to pick up my luggage I laughed to tears!!! Guess what I found – the HELM of the Englishman.
~
I forgot it was in the back of my car, so did he.

Now you can understand the problem I URGE to settle: either I find the Englishman and give him back the helm or, being fond of motors and wheels, I will have to buy a motorbike.

Can you help me?I have already seen a Suzuki 600, or should I buy a KTM? Because the helm I have already…

May God help me to settle down…

http://www.lisboadakar2007.blogspot.com/
http://www.saharagrandedeserto.blogspot.com/